segunda-feira, 20 de julho de 2015

Madame "Voalí"



O novo filme sobre o clássico Madame Bovary de Gustave Flaubert é bom, mas cansativo até para as mulheres mais românticas. O que considero uma pena, pois adoraria que os homens também o vissem com dedicada atenção. Mas a personagem Emma (Mia Wasikowska) passa metade do filme literalmente andando de lá pra cá e correndo pela vila para tentar se salvar de uma vida enfadonha. Esta história (na minha opinião) é um chamado, um alerta para na época o conhecido e famoso ataque histérico feminino, que até hoje nos persegue como um ranço. Um tipo de doença que atingia apenas as mulheres, sem cura até Freud, afinal era da nossa natureza, acreditava-se que vinha do útero. Essa mesma natureza considerada incapaz cuidava perfeitamente da comida, da decoração da casa, do vestir, do cabelo, dos estudos e do piano com prazer. No filme, diferente do livro, Emma não parece estar realmente doente, só futilmente deprimida. E o marido entretido em seus problemas dentro da cabeça e nos deveres futuros, não percebe quão difícil é ser a mantenedora emocional de uma vida à dois, sozinha. Isso precede de tempos mais remotos meus amigos, quando o homem saía para caçar e voltava para sua caverna, recebido com a luz e o calor de uma fogueira que mantinha sua comida e iluminava o lar bem cuidado por sua esposa. Ser a atriz principal de uma peça que nunca recebe aplausos, elogios ou sequer um sorriso gentil do sou único expectador, esse era o mal de Emma. Não ser vista, reconhecida, olhada e principalmente tocada intimamente com carinho pelo seu par, enlouquece qualquer pessoa. E nós mulheres mesmo depois de milênios, não sei por que, ainda esperamos que isso nunca aconteça. Afinal, não somos nós o ser mais sedutor do planeta? No livro, mais uma vez, para aliviar as tensões, tremores e dores no peito a recomendam Valeriana, um tipo de calmante natural usado até hoje. Mas para ela não servia mais, sua inquietude invadiu o coração, derrubou as paredes da decência moral e social, e ela procurou nos amantes uma anestesia para a alma e para o corpo jovem sedento por amor. 




Desesperou-se, e ouviu do Marquês de Andervilliers:
Você permanece embaixo de uma macieira desejando o cheiro de flores de laranjeira. Perdida em um mundo de ilusões.


Pergunto:
Você mulher, deseja o mesmo cheiro e sabor da árvore que escolheu?
E você homem, alimenta corretamente seus frutos e flores?


sábado, 18 de julho de 2015

Sábado à noite tem luta? Tem sim senhor!



Sabe aquele dia de você quer ninho? Que só a camiseta velha da sua banda preferida lhe cabe? Que só o peito de quem você gosta serve? Esse dia era sábado. Esperei ele tomar banho, recostar no sofá e assistir algum esporte violento e sádico que adora. Ao lado, um copo de whisky daqueles fortes que o deixa com o hálito quente, delicioso e enebriante. Preciso dividir com ele esse mesmo ar, agora. Calma, tenho que me aproximar lentamente, como quem não vai atrapalhar seu deleite. Está quente, ele está sem camisa, eu afasto seus pés e deito no canto descansando a cabeça no seu peito. Cheguei onde queria, em silêncio e assim preciso continuar, senão posso ser expulsa. Ele só passa o braço por sobre meu ombro como quem diz, pode ficar. O outro se estende para pegar a bebida, eu de olhos fechados sinto o movimento dos músculos e ouço o barulho do trago na garganta. Ele faz um grunhido forte depois de um golpe certeiro no ringue. Eu sinto seu peito subir. Ele ainda está com cheiro de banho fresco e colônia de barba, que ele não faz porque eu gosto. Me aninho mais. Ele levanta o braço como quem me deixa livre para me mexer e depois volta ao mesmo lugar. Levanto a cabeça e encosto os lábios no pescoço, minha boca está levemente aberta. Ele permanece imóvel. Faço a ponta da língua chegar até a pele e fecho a boca com um beijo sem barulho. Um tipo de agradecimento por me deixar ali. Ele hesita e sinto o braço mais pesado sobre mim. Volto a cabeça e fico ao lado da dele, quieta. O braço que era da bebida passa a ser meu, ele o coloca sobre meu joelho. Mais um minuto, ele relaxa novamente. Subo a mão até o lóbulo da orelha, pressiono levemente e mordo. Ele me segura pelo cabelo e me puxa para olhar nos meus olhos, levanta a sobrancelha como quem diz: Sério, agora? Fecho novamente os olhos e sorrio. Ele me solta e me recoloca sobre o peito. A luta fica violenta e ele fala um palavrão, esmurra a mesa de centro. 


O copo e eu estremessemos. Há muito hormônio no ar, tenho que agir rápido. Aproveito que ficou tenso e cravo as unhas no bíceps dele, como num alerta para baixar a guarda, e mostrar que eu também estou ali. Ele entendeu, subiu a mão até minha coxa e apertou com força. Gemi baixinho, e ele sorriu. Consegui o que eu queria, a briga agora é entre nós, mesmo que ele ainda olhasse a TV. Desci a mão pela lateral do dorso até o oblíquo e quando subi senti ele arrepiado. O coração começou a bater mais forte e a respiração mudou. Ao me mexer mais uma vez, ele me coloca sobre ele, morde os lábios e faz aquele barulho como quem vai me esganar. Fico séria, aquilo para mim não é brincadeira, tem mais estratégia que qualquer episódio de Dexter. Não posso falhar em nenhum movimento, caso contrário minha presa fugirá do ninho. E ainda me culpará por tirá-lo do prazer mundano masculino de beber e assistir seu programa favorito. O juiz anuncia 30 segundos. Ele me solta. É agora, não posso esperar os replays e comentários que só acabam depois do Fantástico. Levanto e tiro a camiseta em câmera lenta. Ele se volta para mim e assiste ao movimento como quem nunca viu este golpe. O lutador cai no ringue, ele desliga o aparelho, e me derruba no tapete com um ippon. Essa luta eu ganhei em silêncio, este homem não é de ferro!

segunda-feira, 6 de julho de 2015

O que será, que será?


O filme Like Crazy - Loucamente Apaixonados é de 2012, me atrasei um pouco para ver. São muitos do gênero, mas poucos avessos ao comum, e por isso não vou mencionar os acontecimentos, apenas tentar relatar que: amar é querer aquilo que não sabemos explicar, que tem sabor de doçura matinal, de costumes e sombras laterais. Cheiros, dores e afagos. Sentir, saudar e beijar. Amar é ajuste, acertos e erros sem correção. Me fez refletir, quantas derrotas suporta? Me fez imaginar, quantas tentativas são necessárias? E os agentes externos que fogem ao nosso controle, serão obstáculos transponíveis? Mas, se é verdadeiro posso e consigo abrir mão de tudo? O fato é, neste momento esse amor é tudo, é parte de tudo, ou está em uma redoma de vidro para que a fragilidade da vida não o quebre? Esse é um final que não se controla, é verbo sem ponto final, uma interrogação constante de vida, aquele será que nem sempre é, perfeito e inconstante. Pesar e prazer, com olhar desconfiado por sobre os ombros. E se eu não tivesse tentado...




Este é o poema que ela deixa no carro dele antes de se apaixonarem, mas que só faz sentido na cena final.

E.E. Cummings:

since feeling is first
who pays any attention
to the syntax of things
will never wholly kiss you;
wholly to be a fool
while Spring is in the world
my blood approves,
and kisses are a better fate
than wisdom
lady i swear by all flowers. Don't cry
—the best gesture of my brain is less than
your eyelids' flutter which says
we are for each other: then
laugh, leaning back in my arms
for life's not a paragraph
And death i think is no parenthesis

Tradução:

Uma vez que sentir é fundamental,
quem presta atenção à sintaxe das coisas
nunca conseguirá beijá-la por inteiro,
ou ser um tolo completo
enquanto houver primavera
meu sangue aprova
e beijos são uma ventura melhor
que a sabedoria, moça,
juro isso por todas as flores.
não chore, o melhor gesto de meu cérebro
é menor que o abrir e fechar de seus olhos
que dizem que somos um para o outro
por isso, ria, recostada em meus braços,
pois a vida não é um parágrafo
e a morte, acredito, não é um parêntesis.

Música para Cachorro



Conheço muita gente que tem música de amor, aquela que lembra o namorado, marido, primeiro encontro, beijo, e afins. Eu vejo música em tudo, sempre tenho algo para acompanhar as situações mais diferentes possíveis. Mas, essas que se relacionam aos amores eu bani, por que odeio quem me tira o prazer de uma música. Fiquei anos sem ouvir absolutamente tudo do Skank, por conta de um encontro péssimo durante um show. Outro dia eles lançaram uma nova faixa chamada Esquecimento, que me lembrava (risos) uma viagem incrível que fiz para o Jalapão. Pronto, agora sou novamente todo ouvidos para eles. O vídeo deve ter chegado perto daquele chinês Psy de tanto que dei replay. Foi libertador. Outras ainda estão guardadas, e a hora que tiver que sair, sai. Musicar a vida é um lema, elas imortalizam e suspendem o tempo. Foi o que aconteceu quando fui me despedir do meu cachorro Frodo, aos 13 anos de idade. Depois de quase um ano de luta para que ele melhorasse de um tumor na cabeça, chegava a hora. Foi muito sofrido, mas aprendi com ele uma lição humana: amar é deixar partir. Ainda choro todas as vezes que lembro dos nossos últimos momentos, é incontrolável. Ele esteve presente em minha vida por mais tempo do que parentes, ex marido e amigos. Fui soterrada por um sentimento de incapacidade de não poder fazer mais por ele, depois de tanto tempo de dedicação a nossa família. Mas, segurei a ponta das suas orelhas e disse: Pode ir, entre milhões de agradecimentos e felicidades de tê-lo comigo. Ainda sinto o macio dos pelos entre os dedos. Entrei no carro de volta para casa sem conseguir respirar direito. Era muito choro e soluço ao mesmo tempo. Não enxergava os faróis. Esfreguei os olhos e liguei o rádio. A vida é mágica e tem trilha, começou tocar Higher Than The Sun do Keane que diz: 




Mais Alto do Que o Sol

Aumente, aumente a música
Me leve mais alto que o sol
Cante, cante de sua entranhas
Cante até que nos tornemos um só

Segure, segure em mim
Fique comigo até que chegue a hora
Porque esta noite
Parece que tudo pode dar certo

Nós estamos mais altos que o sol
E nada vai mudar como eu estou sentindo agora
Sim, você continua e continua
Como eu estou me sentindo nunca se enfraquecerá

Parece, parece uma tempestade
Grita furiosa no ar agitado
Ou sussurra baixo
Como um amigo que você nunca soube que estava lá

Nós estamos mais altos que o sol
E nada vai mudar como eu estou sentindo agora
Sim, você continua e continua
Como eu estou me sentindo nunca se enfraquecerá

Há uma canção para acalmar seu medo
Uma canção pra te levar pra longe daqui
Uma canção para a alegria, uma canção para o desejo
Uma para o desespero, sim

Nós estamos mais altos que o sol
E nada vai mudar como eu estou sentindo agora
Sim, você continua e continua
Como eu estou me sentindo nunca se enfraquecerá

Oh-oh-oh-oh, oh-oh-oh-oh-oh
Oh-oh-oh-oh-oh, oh-oh-oh-oh-oh
Oh-oh-oh-oh-oh, oh-oh-oh-oh-oh
Oh-oh-oh-oh-oh, oh-oh-oh-oh-oh

sábado, 4 de julho de 2015

Conjugar



A maioria das pessoas passa toda a vida tentando não ser esquecida. Eu por inúmeras vezes quis o contrário. Talvez por isso o futuro insista e me faça acreditar de alguma forma que o amor e suas diversas modalidades não se conjugam, pois não há tempo que o dobre e o guarde em uma gaveta escondida no sótão de uma casa abandonada chamada coração.



Amor, errei!









O dia dos namorados foi há quase um mês, mas confesso que ainda estou de ressaca de tantas declarações no Facebook. Gente linda, elegante, sincera e que escreve muito mal. Foi um freak show do português. Imagino que os grandes poetas e escritores riram litros no céu, reunidos em algum ponto sob as nuvens em São Paulo, o que justifica aquela chuva insossa. Não sou formada em Letras (infelizmente, apesar de ser minha primeira opção e ter passado no vestibular), mas técnicas a parte, fiz questão de ler todos os posts, e foram muitos os textos do amor do Joãozinho pela Mariazinha e vice-versa. 




Como boa capricorniana avessa a demonstrações de amor públicas e publicáveis, agradeci milhões de vezes estar correndo por fora desta maratona. Fiquei imaginando os motivos desta falta de cuidado gramatical e talvez o mais importante era sair bem na foto, inclusive na que estava anexa, e não rebuscar o texto. Só que os erros eram primários, em tempos de corretores ortográficos até que eficazes. Porém, e sempre há, estes ajudantes virtuais não conjugam ou seja, as sentenças eram desastrosas para não dizer vergonhosas. Talvez, fosse mais adequado ter feito um rascunho no Word que não é nenhum Professor Pascale, mais ainda assim sugere algumas boas alterações neste sentido. Não posso exemplificar todos aqui, pois seria um crime ao amor e aos amigos mas, os mais "simples" e corriqueiros foram: fazem dez anos que estamos juntos, ou, estamos juntos a cinco anos, ou, nosso amor só almenta a cada dia. Esse último, sério, pensei ser uma licença poética sobre algo que não conseguia definir, mas não foi o caso, e se fosse estaria entre aspas! Para tanto, sugiro que no ano que vem façam a lição de casa. Estudem, leiam mais sobre tudo e principalmente sobre o amor, o sentimento mais nobre entre os seres merece essa dedicação. Ele vale a elegância de um bom português para aquele (a) que você definitivamente ama. Se não der, faça um Ctrl C e V do Drummond, da Clarice, ou simplesmente coloque uma foto dos dois. Lembrem-se, uma imagem vale mais que mil palavras. E o mais importante, faça a pessoa ter orgulho de você e não vergonha, pois amor sem admiração não vai longe camarada.