sábado, 19 de dezembro de 2015

Eu gosto, você gosta, nós gostamos






As pessoas se atraem por opostos, afinal o novo é estimulante, seduz. Casais se formam assim à todo minuto, com uma frequência avassaladora. Mas, o diferente quando muito, sem nenhuma pontinha de reconhecimento mútuo, cansa, irrita e desencanta. Para que isso não aconteça, novas experiências devem ser compartilhadas com entusiasmo por ambos, como um processo cognitivo de pares. Isso manterá a chama, a adorável palavra sparkle (algumas coisas parecem melhor em inglês), para que o monstro da temida rotina não se instale em nossos lares. Caso isso não aconteça, a primeira coisa que enxergamos à distância será alguém igual, e visto que seu velho e conhecido espelho, seu companheiro, parece estar sempre embaçado. Um reflexo claro de um outro traz conforto, reconhecimento próprio através de um livro, uma música, uma bebida, o gosto por esportes, seus problemas ou prestígios no trabalho. Neste filme Um Brinde à Amizade - Drinking Buddies, os dois casais parecem claramente trocados. O suposto equilíbrio que havia entre eles foi quebrado por um beijo infiel entre Jill (Anna Kendrick) e Chris (Ron Livingston) que termina com Kate (Olivia Wilde) que aumenta exponencialmente a intimidade com o amigo do trabalho Luke (Jake Johnson). Entre surtos e pontas de ciúmes de todos envolvidos, as coisas se complicam. Haja visto, que os opostos se atraem até a página...?





Dizem que não escolhemos gostar de alguém. É verdade, mas podemos parar a qualquer momento por vontade própria ou do outro. Precisamos apenas escolher. Se não está dando certo, se não há planos em comum, se, se, se...Está na hora de partir ou ficar para ser infeliz. Sou do mundo, partir é mais fácil, para quem é de casa é muito difícil, às vezes impossível. Mas, o mais importante é, faça o seu melhor para você e para o outro, encaixe-se, permita-se, sem nunca violar-se. Se isso acontecer, repense sua vida. Algo está realmente errado.

Seu amor deveria ser seu melhor amigo, aliado e companheiro. Porém, ele pode já estar comprometido, completo, então refaça seus planos, a vida é longa o suficiente para tomar outras cervejas e degustar novas chances e sabores. 

sábado, 21 de novembro de 2015

Jóia Rara não é um Diamante Cor de Rosa




Carrego comigo o tempo todo a jóia mais valiosa da minha vida: as chaves da minha casa. Trabalhei muito e paguei uma pequena fortuna por elas que, em um chaveiro de trevo da sorte tremulam: independência, liberdade e calmaria. Uma receita que se pudesse ir ao forno daria um bolo delicioso. Só dei uma cópia dessas chaves uma única vez, juntos compramos uma outra. Depois de cinco anos me mudei, vivi mais outros cinco sozinha com diferentes fechaduras. Mudei de novo e quando pedi um favor enquanto estava fora do país, as novas e reluzentes chaves que emprestei não foram devolvidas. Quis muito pedir de volta, me senti invadida, mas era uma daquelas boas que deixam flores e bilhetes de agradecimento. Permiti e errei. Senti falta do que não fiz, do que deveria ter acontecido por minha conta e risco. Nada supera isso. Sempre preferi dar presentes do que ganhar. Por fim, chegou o dia de receber de volta o que nem cheguei a oferecer. Parafraseando Manuel Bandeira: "...Deixando um acre sabor na boca! Comparar sentimentos a gostos e comida é uma maneira de tentar traduzir a perfeita doçura ou amargura destes. O filme My Blueberry Nights - Beijo Roubado de 2008 trás uma dessas receitas anti-dissabores, que para Lizzie é literalmente uma suculenta torta de liberdade com sorvete de sobriedade, degustada ferozmente para curar o vício de um amor, pois fora obrigada a abandonar suas chaves, sem opção para de(volver). E o que fazer sem as trancas da vida? E se o seu mundo fosse alugado para outra pessoa? Esse ouro não é para tolo. De valor aquilo que te guarda e protege da violência dos outros. Não permita invasões bárbaras, boas ou ruins. Segundo Aroldo Antunes:

Gira a vida
nesse eterno abrir e fechar de portas.

Esse é um filme B, dirigido por um chinês com um elenco A+, que permite um resultado inesperado. A protagonista estreante é a famosa cantora de Jazz Norah Jones que vive uma das mais lindas cenas de beijo do cinema, ao som de uma trilha magistral. Be my guest. Just guest!

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Gold Fish ou Ovelha Negra, quem é você na família?



Ser o filho mais amado ou o mais desgostado tem o mesmo peso. As exigências e responsabilidades são enormes para ambos. De um espera-se tudo, do outro nada, mas as surpresas acontecem e as moedas mudam de lado. O bom nunca é suficiente o bastante, e o mal sempre se supera. Tudo não passa de expectativa, reflexos de espelhos quebrados que tentam emendar a imagem do outro perante a nossa. Felizmente, possuímos um ingrediente extra no gene familiar que funciona como um universo paralelo, onde todos se amam independente de seus atos, isso chama-se: amor incondicional. Contamina apenas àqueles que transportam o elemento químico do perdão emocional, co-sanguíneo ou não. Por que família (na minha religião), você escolhe antes de chegar aqui. Foi só depois que aceitei este fato, que parei de lutar contra o meu destino. E mesmo assim, luto diariamente para provar que vim para atar nossas mãos, seja qual for o fardo. Afinal, todos temos problemas reais e muitos outros imaginários. Quem nunca? Foi muito além da queda de braço com os irmãos? Comparou ou foi comprado com os exemplos bons e ruins dentro de casa? Fez meses de silêncio entre si? Ofendeu sem razão ou necessidade, apenas pelo calor do jogo?




Este filme Song One - ainda sem título em português, fala, canta e vibra a relação entre dois irmãos. Além de pais, compromissos, obrigações, amigos, amores, e tudo que uma verdadeira família forma e cultiva ao longo dos anos. Franny (Anne Hathaway) mora longe de casa há tanto tempo que não sabe mais como seu irmão é, o que ele gosta, o que faz, onde mora...Ela simplesmente o riscou da árvore genealógica. Mas, uma fatalidade é a chave para um recomeço, uma nova chance. Muitas vezes, senão na maioria delas, isso é necessário para deixarmos de irracionalidade, já que sempre esperamos do outro atitudes condizentes aos nossos sonhos dourados. Me lembro do dia que meu irmão apareceu com uma tatuagem nova, uma escrita em japonês: pai, mãe, irmã mais velha. Fiquei extremamente surpresa e feliz, pois apesar das nossas diferenças agora sou literalmente parte dele. Depois de todas as brigas ainda estarei lá, grudada em sua perna. Numa das diversas cenas de bares percorridos pelo filme, podemos ouvir Leãozinho do Caetano Veloso, uma das músicas mais carinhosas que conheço, feita para uma criança. Lembre-se desta época, em que brincar com seus irmãos era o mais importante. O restante não deve afetar nenhum dos lados. Já vivemos em tempos de guerra. Aceitar, é a única nota que nosso coração deve tocar sempre. Isso muda nossa relação com o Universo, e acredito eu, que coisas boas se farão mais presentes a partir deste momento.


Se ainda tiver dúvidas, questione. O quanto você realmente conhece da pessoa que tanto briga e diverge? Talvez não haja tempo para descobertas, desculpas e perdão, então ame o que ele representa, e não suas escolhas.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Sem razão não há felicidade


Sim, a vida é o que acontece entre uma ação e outra, com pausas suficientes para analisarmos qual o próximo passo. Sabemos o que será melhor, mas esse melhor nem sempre é o mais interessante, excitante e divertido. Assim burlamos nossa sabedoria e ajeitamos o destino. Queremos sempre o copo cheio, transbordando, mesmo que isso nos afogue mais tarde. Às vezes você é seu pior inimigo. Sim nós somos, e muitas vezes. Amores, dores e fim. Está escrito, há reflexos, resquícios, pistas. Ignoramos. Enfim, a música da pista do coração toca mais alto e vibra no mesmo ritmo da pessoa mais errada. É simples, um imã natural. Procuramos pelos iguais, gestos, gostos, algo que pareça familiar, às vezes nada disso. O que importa mesmo é a ação conjunta e o segundo que oscila entre o fechar dos olhos e o abrir das bocas em um beijo inesperado. Evitar isso é quase morrer, então vivemos intensamente, ignorando e ainda tentando provar que é válido. Afinal, com tantas opções de beleza e facilidade de aproximação, quem vai se envolver, criar laços, filhos?



No filme Uma Semana a Três - The Longest Week, a temática é exatamente essa, a escolha e suas consequencias. Mulheres procuram um porto seguro: homem confiante de si mesmo, que tenha charme, uma ousadia leve, riso fácil, e aquele gosto de, fica só mais um pouco? Homens procuram um porto feliz: mulher sex, um tanto insegura para que o deixe tomar as rédeas, presa fácil sob seus olhares e desejos, e aquele gosto de, eu quero que você fique! Pronto, receita caseira para doses cavalares em nossa monotonia. Remédio errado que funciona só a curto prazo para as relações temporárias e pobres que surgem todos os dias. Somos muito mais que essa lista limitada. Mas todos ignoram ou são ignorados em algum momento e o triângulo se quebra expondo a clássica formação: homem, mulher, melhor amigo. Conrad (Jason Bateman), não aceita a realidade do seu empobrecimento financeiro, mostra uma total falta de comprometimento com a realidade, e assim finge ser o melhor partido disponível. Afinal, os falidos sempre são mais divertidos, engraçados, desprendidos de formalidades e incrivelmente mais felizes. Beatrice (Olivia Wilde), um modelo de virtude, boa formação, emprego invejável, que mesmo cheia de dúvidas se arrisca em fazer algo não esperado. Ele aplica o golpe mais manjado e que sempre funciona: café, literatura, passeio, drink e música para deixá-la tonta e apaixonada. É calculado, inclusive o mesmo bar de sempre. Sintonia e proximidade. O cheiro do perfume exalando com o calor dos braços em vollta do corpo. Ela adorava a forma que ele olhava pra ela. Ele amava olhar para ela. Pronto, temos uma admiração. O que considero o melhor e mais doce fruto do amor. Dylan (Billy Crudup), amigo centrado, aquele que acolhe, o melhor conselheiro, representa aqui a nossa consciência repetindo incessantemente: não tente nada, não tente nada. Pior que se apaixonar por alguém é se apaixonar por essa ideia, foi o que aconteceu com ambos, mas ele começa a viver a duras penas a mentira. Triste e desolado ouve do amigo: 

Perca duas, três mulheres, mas não minta para elas e principalmente para você.
Eu digo: a razão vence sempre.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Fisicamente longe, Logicamente perto, apenas 10.000km




Viver e estar, hoje em dia são coisas muito diferentes no mundo real. Os tempos modernos aumentaram fisicamente o ir e vir das pessoas, em contra partida diminuíram logicamente o contato através de cabos e satélites. Porém, a grande maioria acredita que o convívio presencial diário nos relacionamentos ainda não é substituível. Talvez por um tempo, mas esse tempo continua muito relativo desde Einstein, e não acho que mude tão cedo. 




Tentar encurtar o espaço e manter o laço atado é o que o casal Alexandra (Natalia Tena, a selvagem de Game of Thrones) e Sergi (David Verdaguer) fazem no filme espanhol 10.000km, apesar da dureza e frieza do amor com fronteiras, fusos trocados e toques apenas virtuais. Afinal trata-se de dois Latinos, sempre famosos pelo furor sexual nacional latente, independente da geografia que se alojem. Só que amores e dores continuam melhores ao vivo, sentir e discutir nunca, nunca será melhor pelo telefone ou computador. O olhar nos olhos, o calor das mãos, o tremor dos lábios, não são perceptíveis nestes meios, e isso faz uma falta absurda, além de criar mal entendidos memoráveis. Acredito eu, que um única coisa que pode acalmar todos e quaisquer sentimentos deste tipo, é a boa e velha paciência. Só ela te faz esperar pelo melhor momento, ouvir primeiro e falar depois. Inverter essa ordem pode ser mortal e acabar com tudo de melhor no relacionamento de agora que espera um futuro. Quando há uma presença constante é muito mais fácil de se praticar, mas expostos a ausências sem fins não há equilíbrio. Falar primeiro que o outro dos seus sentimentos, anseios e impasses vira uma disputa diária, até o dia que nenhum dos dois quer dizer mais nada, a não ser Fim. Ter o passaporte carimbado constantemente por conta do trabalho ou estudos pode nos manter fora do ramo chamado amor, já que encontrar alguém que aceite e viva isso tranquilamente é raro. Os desafios são homéricos: depois da saudade, que nem sempre é boa, também vem a insegurança e o ciúmes. Estudos dizem que as novas relações terão data para começar e acabar, e se você quiser poderá prorrogar este prazo afetivamente/efetivamente contratual. Será mesmo? Eu ainda fico com a antiga opção: até que a morte nos separe, se é que esta também não será prorrogada! Oremos.

domingo, 2 de agosto de 2015

Não ser Mulherzinha, eis a questão.


Minha terapeuta diz: Você tem um falo imaginário muito grande. Ou seja, estou sempre tentando provar que ser mulher não me diminui em nada e que sou capaz dos mesmos feitos que os homens. Certo? ERRADO! Tenho fraquezas, delicadezas e sentimentos raros, que faço questão de não expor, pois fui criada para ser assim, forte, independente e até agressiva se necessário para lutar por minhas causas próprias. Sofri bastante, sou de uma geração de mulheres brotos na divisão de um mundo mais igual entre os gêneros. Quando fui estudar Informática no colegial, virei o orgulho dos meus pais e tios que não tinham sequer o ginásio, e primos que preferiam sonhar mais baixo, afinal éramos frutos de uma periferia pobre de brasileiros, sem descendência e sobrenomes estrangeiros. Legítimos SILVA. Quis mudar esse destino que não me cabia, pois era apertado, justo demais para minha ainda que pequena alma. A tal Tecnologia me levou longe e para um planeta habitado apenas por homens. Terra inóspita, seca e rude. Sangrei literalmente sem poder, suei e chorei escondida, mas sobrevivi e fui destaque dentro de equipes totalmente masculinas. Uma escola única que moldou meu caráter e me fez adulta para as adversidades, mesmo que sob protestos e duras bravatas. Sou feliz por ter feito a escolha certa, mas não aconselho a todas, o inferno não é um playground divertido, tem-se que comer muita areia. 




E isso é o que acontece neste filme A Little Chaos - Um Pouco de Caos, com Madame de Barra (Kate Winslet), que trabalha ferozmente em um ofício masculino numa era ainda mais cruel e injusta. Não desistir é um lema, sofrer é parte e ser reconhecida um sonho. Sonho eu, com tempos mais gentis, com homens mais gratos, com amigos mais dedicados. "O céu deve ser aqui", é uma frase do rei da França quando se refere aos jardins de Versailles, acredito nela e no sentido amplo que pode alcançar. Por que sou mulher, sou igual, sou humana e não preciso ser desconsiderada para uma função por que sinto cólicas todo mês ou goste de flores sobre a mesa do escritório. O Eden é você quem constrói.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Madame "Voalí"



O novo filme sobre o clássico Madame Bovary de Gustave Flaubert é bom, mas cansativo até para as mulheres mais românticas. O que considero uma pena, pois adoraria que os homens também o vissem com dedicada atenção. Mas a personagem Emma (Mia Wasikowska) passa metade do filme literalmente andando de lá pra cá e correndo pela vila para tentar se salvar de uma vida enfadonha. Esta história (na minha opinião) é um chamado, um alerta para na época o conhecido e famoso ataque histérico feminino, que até hoje nos persegue como um ranço. Um tipo de doença que atingia apenas as mulheres, sem cura até Freud, afinal era da nossa natureza, acreditava-se que vinha do útero. Essa mesma natureza considerada incapaz cuidava perfeitamente da comida, da decoração da casa, do vestir, do cabelo, dos estudos e do piano com prazer. No filme, diferente do livro, Emma não parece estar realmente doente, só futilmente deprimida. E o marido entretido em seus problemas dentro da cabeça e nos deveres futuros, não percebe quão difícil é ser a mantenedora emocional de uma vida à dois, sozinha. Isso precede de tempos mais remotos meus amigos, quando o homem saía para caçar e voltava para sua caverna, recebido com a luz e o calor de uma fogueira que mantinha sua comida e iluminava o lar bem cuidado por sua esposa. Ser a atriz principal de uma peça que nunca recebe aplausos, elogios ou sequer um sorriso gentil do sou único expectador, esse era o mal de Emma. Não ser vista, reconhecida, olhada e principalmente tocada intimamente com carinho pelo seu par, enlouquece qualquer pessoa. E nós mulheres mesmo depois de milênios, não sei por que, ainda esperamos que isso nunca aconteça. Afinal, não somos nós o ser mais sedutor do planeta? No livro, mais uma vez, para aliviar as tensões, tremores e dores no peito a recomendam Valeriana, um tipo de calmante natural usado até hoje. Mas para ela não servia mais, sua inquietude invadiu o coração, derrubou as paredes da decência moral e social, e ela procurou nos amantes uma anestesia para a alma e para o corpo jovem sedento por amor. 




Desesperou-se, e ouviu do Marquês de Andervilliers:
Você permanece embaixo de uma macieira desejando o cheiro de flores de laranjeira. Perdida em um mundo de ilusões.


Pergunto:
Você mulher, deseja o mesmo cheiro e sabor da árvore que escolheu?
E você homem, alimenta corretamente seus frutos e flores?


sábado, 18 de julho de 2015

Sábado à noite tem luta? Tem sim senhor!



Sabe aquele dia de você quer ninho? Que só a camiseta velha da sua banda preferida lhe cabe? Que só o peito de quem você gosta serve? Esse dia era sábado. Esperei ele tomar banho, recostar no sofá e assistir algum esporte violento e sádico que adora. Ao lado, um copo de whisky daqueles fortes que o deixa com o hálito quente, delicioso e enebriante. Preciso dividir com ele esse mesmo ar, agora. Calma, tenho que me aproximar lentamente, como quem não vai atrapalhar seu deleite. Está quente, ele está sem camisa, eu afasto seus pés e deito no canto descansando a cabeça no seu peito. Cheguei onde queria, em silêncio e assim preciso continuar, senão posso ser expulsa. Ele só passa o braço por sobre meu ombro como quem diz, pode ficar. O outro se estende para pegar a bebida, eu de olhos fechados sinto o movimento dos músculos e ouço o barulho do trago na garganta. Ele faz um grunhido forte depois de um golpe certeiro no ringue. Eu sinto seu peito subir. Ele ainda está com cheiro de banho fresco e colônia de barba, que ele não faz porque eu gosto. Me aninho mais. Ele levanta o braço como quem me deixa livre para me mexer e depois volta ao mesmo lugar. Levanto a cabeça e encosto os lábios no pescoço, minha boca está levemente aberta. Ele permanece imóvel. Faço a ponta da língua chegar até a pele e fecho a boca com um beijo sem barulho. Um tipo de agradecimento por me deixar ali. Ele hesita e sinto o braço mais pesado sobre mim. Volto a cabeça e fico ao lado da dele, quieta. O braço que era da bebida passa a ser meu, ele o coloca sobre meu joelho. Mais um minuto, ele relaxa novamente. Subo a mão até o lóbulo da orelha, pressiono levemente e mordo. Ele me segura pelo cabelo e me puxa para olhar nos meus olhos, levanta a sobrancelha como quem diz: Sério, agora? Fecho novamente os olhos e sorrio. Ele me solta e me recoloca sobre o peito. A luta fica violenta e ele fala um palavrão, esmurra a mesa de centro. 


O copo e eu estremessemos. Há muito hormônio no ar, tenho que agir rápido. Aproveito que ficou tenso e cravo as unhas no bíceps dele, como num alerta para baixar a guarda, e mostrar que eu também estou ali. Ele entendeu, subiu a mão até minha coxa e apertou com força. Gemi baixinho, e ele sorriu. Consegui o que eu queria, a briga agora é entre nós, mesmo que ele ainda olhasse a TV. Desci a mão pela lateral do dorso até o oblíquo e quando subi senti ele arrepiado. O coração começou a bater mais forte e a respiração mudou. Ao me mexer mais uma vez, ele me coloca sobre ele, morde os lábios e faz aquele barulho como quem vai me esganar. Fico séria, aquilo para mim não é brincadeira, tem mais estratégia que qualquer episódio de Dexter. Não posso falhar em nenhum movimento, caso contrário minha presa fugirá do ninho. E ainda me culpará por tirá-lo do prazer mundano masculino de beber e assistir seu programa favorito. O juiz anuncia 30 segundos. Ele me solta. É agora, não posso esperar os replays e comentários que só acabam depois do Fantástico. Levanto e tiro a camiseta em câmera lenta. Ele se volta para mim e assiste ao movimento como quem nunca viu este golpe. O lutador cai no ringue, ele desliga o aparelho, e me derruba no tapete com um ippon. Essa luta eu ganhei em silêncio, este homem não é de ferro!

segunda-feira, 6 de julho de 2015

O que será, que será?


O filme Like Crazy - Loucamente Apaixonados é de 2012, me atrasei um pouco para ver. São muitos do gênero, mas poucos avessos ao comum, e por isso não vou mencionar os acontecimentos, apenas tentar relatar que: amar é querer aquilo que não sabemos explicar, que tem sabor de doçura matinal, de costumes e sombras laterais. Cheiros, dores e afagos. Sentir, saudar e beijar. Amar é ajuste, acertos e erros sem correção. Me fez refletir, quantas derrotas suporta? Me fez imaginar, quantas tentativas são necessárias? E os agentes externos que fogem ao nosso controle, serão obstáculos transponíveis? Mas, se é verdadeiro posso e consigo abrir mão de tudo? O fato é, neste momento esse amor é tudo, é parte de tudo, ou está em uma redoma de vidro para que a fragilidade da vida não o quebre? Esse é um final que não se controla, é verbo sem ponto final, uma interrogação constante de vida, aquele será que nem sempre é, perfeito e inconstante. Pesar e prazer, com olhar desconfiado por sobre os ombros. E se eu não tivesse tentado...




Este é o poema que ela deixa no carro dele antes de se apaixonarem, mas que só faz sentido na cena final.

E.E. Cummings:

since feeling is first
who pays any attention
to the syntax of things
will never wholly kiss you;
wholly to be a fool
while Spring is in the world
my blood approves,
and kisses are a better fate
than wisdom
lady i swear by all flowers. Don't cry
—the best gesture of my brain is less than
your eyelids' flutter which says
we are for each other: then
laugh, leaning back in my arms
for life's not a paragraph
And death i think is no parenthesis

Tradução:

Uma vez que sentir é fundamental,
quem presta atenção à sintaxe das coisas
nunca conseguirá beijá-la por inteiro,
ou ser um tolo completo
enquanto houver primavera
meu sangue aprova
e beijos são uma ventura melhor
que a sabedoria, moça,
juro isso por todas as flores.
não chore, o melhor gesto de meu cérebro
é menor que o abrir e fechar de seus olhos
que dizem que somos um para o outro
por isso, ria, recostada em meus braços,
pois a vida não é um parágrafo
e a morte, acredito, não é um parêntesis.

Música para Cachorro



Conheço muita gente que tem música de amor, aquela que lembra o namorado, marido, primeiro encontro, beijo, e afins. Eu vejo música em tudo, sempre tenho algo para acompanhar as situações mais diferentes possíveis. Mas, essas que se relacionam aos amores eu bani, por que odeio quem me tira o prazer de uma música. Fiquei anos sem ouvir absolutamente tudo do Skank, por conta de um encontro péssimo durante um show. Outro dia eles lançaram uma nova faixa chamada Esquecimento, que me lembrava (risos) uma viagem incrível que fiz para o Jalapão. Pronto, agora sou novamente todo ouvidos para eles. O vídeo deve ter chegado perto daquele chinês Psy de tanto que dei replay. Foi libertador. Outras ainda estão guardadas, e a hora que tiver que sair, sai. Musicar a vida é um lema, elas imortalizam e suspendem o tempo. Foi o que aconteceu quando fui me despedir do meu cachorro Frodo, aos 13 anos de idade. Depois de quase um ano de luta para que ele melhorasse de um tumor na cabeça, chegava a hora. Foi muito sofrido, mas aprendi com ele uma lição humana: amar é deixar partir. Ainda choro todas as vezes que lembro dos nossos últimos momentos, é incontrolável. Ele esteve presente em minha vida por mais tempo do que parentes, ex marido e amigos. Fui soterrada por um sentimento de incapacidade de não poder fazer mais por ele, depois de tanto tempo de dedicação a nossa família. Mas, segurei a ponta das suas orelhas e disse: Pode ir, entre milhões de agradecimentos e felicidades de tê-lo comigo. Ainda sinto o macio dos pelos entre os dedos. Entrei no carro de volta para casa sem conseguir respirar direito. Era muito choro e soluço ao mesmo tempo. Não enxergava os faróis. Esfreguei os olhos e liguei o rádio. A vida é mágica e tem trilha, começou tocar Higher Than The Sun do Keane que diz: 




Mais Alto do Que o Sol

Aumente, aumente a música
Me leve mais alto que o sol
Cante, cante de sua entranhas
Cante até que nos tornemos um só

Segure, segure em mim
Fique comigo até que chegue a hora
Porque esta noite
Parece que tudo pode dar certo

Nós estamos mais altos que o sol
E nada vai mudar como eu estou sentindo agora
Sim, você continua e continua
Como eu estou me sentindo nunca se enfraquecerá

Parece, parece uma tempestade
Grita furiosa no ar agitado
Ou sussurra baixo
Como um amigo que você nunca soube que estava lá

Nós estamos mais altos que o sol
E nada vai mudar como eu estou sentindo agora
Sim, você continua e continua
Como eu estou me sentindo nunca se enfraquecerá

Há uma canção para acalmar seu medo
Uma canção pra te levar pra longe daqui
Uma canção para a alegria, uma canção para o desejo
Uma para o desespero, sim

Nós estamos mais altos que o sol
E nada vai mudar como eu estou sentindo agora
Sim, você continua e continua
Como eu estou me sentindo nunca se enfraquecerá

Oh-oh-oh-oh, oh-oh-oh-oh-oh
Oh-oh-oh-oh-oh, oh-oh-oh-oh-oh
Oh-oh-oh-oh-oh, oh-oh-oh-oh-oh
Oh-oh-oh-oh-oh, oh-oh-oh-oh-oh

sábado, 4 de julho de 2015

Conjugar



A maioria das pessoas passa toda a vida tentando não ser esquecida. Eu por inúmeras vezes quis o contrário. Talvez por isso o futuro insista e me faça acreditar de alguma forma que o amor e suas diversas modalidades não se conjugam, pois não há tempo que o dobre e o guarde em uma gaveta escondida no sótão de uma casa abandonada chamada coração.



Amor, errei!









O dia dos namorados foi há quase um mês, mas confesso que ainda estou de ressaca de tantas declarações no Facebook. Gente linda, elegante, sincera e que escreve muito mal. Foi um freak show do português. Imagino que os grandes poetas e escritores riram litros no céu, reunidos em algum ponto sob as nuvens em São Paulo, o que justifica aquela chuva insossa. Não sou formada em Letras (infelizmente, apesar de ser minha primeira opção e ter passado no vestibular), mas técnicas a parte, fiz questão de ler todos os posts, e foram muitos os textos do amor do Joãozinho pela Mariazinha e vice-versa. 




Como boa capricorniana avessa a demonstrações de amor públicas e publicáveis, agradeci milhões de vezes estar correndo por fora desta maratona. Fiquei imaginando os motivos desta falta de cuidado gramatical e talvez o mais importante era sair bem na foto, inclusive na que estava anexa, e não rebuscar o texto. Só que os erros eram primários, em tempos de corretores ortográficos até que eficazes. Porém, e sempre há, estes ajudantes virtuais não conjugam ou seja, as sentenças eram desastrosas para não dizer vergonhosas. Talvez, fosse mais adequado ter feito um rascunho no Word que não é nenhum Professor Pascale, mais ainda assim sugere algumas boas alterações neste sentido. Não posso exemplificar todos aqui, pois seria um crime ao amor e aos amigos mas, os mais "simples" e corriqueiros foram: fazem dez anos que estamos juntos, ou, estamos juntos a cinco anos, ou, nosso amor só almenta a cada dia. Esse último, sério, pensei ser uma licença poética sobre algo que não conseguia definir, mas não foi o caso, e se fosse estaria entre aspas! Para tanto, sugiro que no ano que vem façam a lição de casa. Estudem, leiam mais sobre tudo e principalmente sobre o amor, o sentimento mais nobre entre os seres merece essa dedicação. Ele vale a elegância de um bom português para aquele (a) que você definitivamente ama. Se não der, faça um Ctrl C e V do Drummond, da Clarice, ou simplesmente coloque uma foto dos dois. Lembrem-se, uma imagem vale mais que mil palavras. E o mais importante, faça a pessoa ter orgulho de você e não vergonha, pois amor sem admiração não vai longe camarada.